sábado, 2 de fevereiro de 2008

O abanão de cabeça.

(O último julgamento Capela Sistina - Miguel Ângelo)

Com a fase adulta vêm as responsabilidades. Com as responsabilidades, o julgamento. Com o julgamento vem o afastamento da nossa criança interior e por conseguinte o abanão de cabeça que faz juizo de qualquer criança ou pessoa quando os vemos em circunstâncias que consideramos de alguma forma um acto de infantilidade.
À medida que crescemos e passamos pelas experiências da vida, definimos correcto ou errado certas situações, acções e reacções, pensamentos, comportamentos, isto é, escolhas. Cada vez que vemos repetidos esses momentos, uma sinapse, que procura e encontra um padrão nela, activa-se dando quase que instantâneamente a uma nova escolha: aceitar, criticar ou simplesmente proibir que este padrão se repita com a outra pessoa.
Neste processo, acabamos por nos esquecermos que o que nos definiu e nos levou a este julgamento foram mesmo estas experiências pelas quais passamos. É verdade que a aprendizagem pode ser adquirida de várias formas, mas não será a vivência pela própria experiência uma tão válida quanto as outras?
É claro que é mais fácil não se deixar envolver tão emocionalmente com uma situação que consideramos negativa julgando-a, quando o padrão que está a ser repetido, não o está a ser por uma pessoa que nos é próxima ou mesmo familiar, menos ainda quando falamos dos nossos filhos.
A questão que coloco é, sendo que nestas experiências o que levou ao seu resultado tenha sido termos sido nós a passar por elas, será nosso dever negar a oportunidade a quem quer que seja de passar por ela? Logo depois surge outra questão, deixar outra pessoa passar por ela não será uma oportunidade de aprendermos a olhar para esta experîência sob outros olhos e compreendermos algo que nos passou ao lado anteriormente? e finalmente a derradeira pergunta, devemos ou não interferir activamente nas experiências de quem quer que seja, incluído dos nossos filhos?
Uma grande mulher ensinou-me indirectamente através da sua forma de ser, que podemos ensinar sem julgar, sem intervir activamente e somente acompanhando. Ensinou-me também que as crianças têm muito para nos ensinar através dos seus olhos puros e verdadeiros.
Finalmente: Será o amor incondicional, isto é um amor desapegado da questão, com os nossos filhos, uma boa forma de os educar? Esta mulher mostrou-me que em várias circunstâncias sim e uma das suas filhas é a mulher com quem pretendo criar os meus filhos.

2 comentários:

silvestre disse...

Ó Fred, tu fazes perguntas difíceis. Isso do amor incondicional tem muito que se lhe diga. Em particular porque não é uma condição universal.

Deixar que os outros errem para aprendermos o que não conseguimos quando erramos parece-me ser um pouco egoísta.

Também acredito que devemos intervir activamente nas experiências dos que são emocionalmente significativos para nós. Intervir não significa esmagar a iniciativa do outro, antes sim representa abrir quantas mais portas forem possíveis para que o outro escolha. Quem tem experiência tem esse dever, acho eu.

Mas mais uma vez, temos de definir conceitos. Temos de definir o que é intervir, o que é orientar. E um dia destes podemos falar de como todos os amores incondicionais são condicionais. Fica para um jantar ou para uns amendoins picantes a seguir ao jantar.

Fred disse...

Concordo. O mais importante na mensagem que pretendo transmitir é o de acreditar que tudo será resolvido pelo melhor. Na minha modesta opinião, o não intervir está associado a uma intervenção activa sem qualquer pedido da pessoa afectada. Isto é, no meu entender, a intervenção activa deve existir claro mas com algumas condições para que seja eficiente. Primeiro, para melhor aconselhar, é necessário haver um certo distanciamento da questão, um desapego que proporcionará, no meu ver, melhores condições para ajudar. Para existir este distanciamento, é também preciso saber respeitar o timing da pessoa envolvida e somente a ajudar quando ela pedir ajuda. Só aí, mais uma vez na minha opinião, estarão criadas todas as condições de um bom aconselhamento. A minha questão continua a ser, seremos capazes de seguir estas directrizes quando a pessoa envolvida na questão é alguém que amamos?